Olhou para mim, sorriu e veio a correr. Leve, deu um salto para os meus braços que já estavam estendidos, pelas saudades. Reparei nas suas trancinhas meticulosamente feitas, no brilho dos olhos, no que tinha crescido, na canção que trauteava em surdina, enquanto brincava com uma boneca, depois de ter saído do meu colo. E quando me encontrava a falar com outros adultos, veio de repente e ofereceu-me um bolo que acabara de fazer numa panelinha, mexendo devagar:
- queres?
- sim, claro, é de quê?
- é um bolo de tomate...
- tomate? nunca comi...e leva mais o quê?
- arroz...
- ah, se calhar fizeste o almoço...arroz, tomate...e mais o quê?
- carne...gostas?
- está muito bom...embora eu goste mais de peixe...mas o tomate está muito bem temperado e o arroz delicioso...
Depois serviu-me um café, que fez numa cafeteira pequenina de plástico. Encheu uma chávena e perguntou
- muito ou pouco?
- meia chávena, tenho que ter cuidado, já bebi café, hoje

E assim foi hoje também, de novo. Podem vir férias e muitos dias sem escola, mas depressa se repete e se ritualiza o que para nós foi, e é, gostoso bom e verdadeiro. Não há longe nem distante para quem se quer bem e se enlaçou com pedaços de brincadeiras sérias e doces. De bolos e almoços.
Retomo dentro de mim a ideia de que vai ser bom voltar a brincar e a aceitar comidinha saborosa feita pelas crianças. E observar, em interação dialógica, as suas aprendizagens de serem pessoas no mundo.
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