domingo, 7 de setembro de 2014

Devaneio

Poderia sempre dançar ao vento e rir desalmadamente, mas o corpo hoje não lhe fazia a vontade, nem o riso saia liberto do seu rosto de mulher ausente. Perdida na floresta dos afetos, esperava o render do sol, esse que acontece nos fins de tarde de dias inaugurais. Dias extensos e perfeitos, fantásticos, com taças de vinho em mesas de acolher amigos, ladeadas por vasos de amores perfeitos moldados no atelier da casa. Uma casa grrande, com janelas largas para ver o mundo, nunca se quisera fechada em laboratórios de estudar e conter vidas por decidir.

http://zildetenovaes.no.comunidades.net/1348734442/101_me_nat1.jpgCansada da rigidez do corpo, espreitou a cascata da água, molhou as mãos e lavou a cara, como quem limpa uma alma cansada. E assim ficou à espera do tempo novo, em cima do tronco da árvore mais frondosa do sua planície de desejos, rosto encostado às folhas que pendiam dispersas e viçosas. Assim se deixou estar, braços e pernas a baloiçar, olhos fehados, sentidos alerta. Sentia a brisa do vento, o quente do sol, a espuma do mar, os beijos da mãe.

E assim permaneceu até ao cair da noite. Pela madrugada enlaçou-a um sonho de futuro, uma vontade de germinar estrelas, a certeza serena de fazer caminhos. E por aí se foi, agitando o corpo para retomar postura, equilibrar contrários e refazer os sonhos. Outros que não estes, de paisagens perfeitas em fins de mundo passados.

Procurou a chave e voltou a casa. Confirmou que tudo estava como sempre, em lugar certo e seguro. Só depois se fez à vida, certa da estranheza da noite, necessitada da rotina dos dias.
De novo se projetou como autora do seu tempo, com raízes e chão. Sem histórias e falsas fugas de encantar.

Sem comentários:

Enviar um comentário