Iremos para o mar ou para o campo, levando uma mala cheia de perguntas e perplexidades. Convocaremos o tempo longo, livre, esse que nos falta desde o ano passado e tem interrompido abraços e risos fraternos, em presença. Pegaremos num livro, nos óculos de sol e na preguiça e partiremos. Queremos outro sol e outro lugar. Os que temos agora estão ainda submersos em aflições.
Ficaremos à beira-mar a ouvir o bater das ondas e as conversas das crianças, entre corridas e mergulhos. Apreciaremos a sua determinação e brincadeiras ruidosas. Isso nos dará uma tranquilidade imensa. Perto da infância, os dias cumprem-se, desafiantes e amenos. Assim parece, ainda que saibamos que há muitas infâncias, nem todas alinhadas em vidas felizes.
Conversaremos muito, matando saudades e ausências. Pegaremos nas palavras e comporemos ideias, partilhando histórias e propósitos. Isso será um ganho para continuar a pensar com os nossos botões e os dos outros.
Mas cuidaremos sobretudo do silêncio, ainda que acompanhado, para ouvir o que temos cá dentro, sem distrações enganosas. Convocaremos quem nos deixou, imortalizando memórias justas. E interrogaremos, sem pressa, o que perdemos e ganhámos, das condições que o mundo nos ofereceu.
Teremos feito o nosso melhor, sem sucumbir aos devaneios da ignorância, mesquinhez e indiferença? Teremos resistido o suficiente para contrariar o caminho das formigas no carreiro? Teremos mantido a lucidez e a vigilância? Teremos cumprido a nossa humanidade?
Em descanso, junto ao mar, tudo ficará mais claro. Assim o esperamos, para ajustar ideias e redefinir estratégias. Para poder continuar, sim. Mais convictos e refeitos.
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