Fui andar ao parque e de novo me encontrei com o outono, uma das estações de que mais gosto. As folhas no chão, as suas formas e cores tão belas, o tempo mais fresco, uma melancolia boa que convida ao pensamento e a conversas com os nossos botões. Dei por mim a apanhar folhas e bolotas, como no tempo em que ia para a escola, e com os meninos e as meninas ensaiávamos obras de arte, as nossas, com todo esse material natural. Depois sorri e pensei "uma vez educadora, educadora para sempre".
Nesta saudade, lembro-me de muitos meninos e meninas, cuja integração foi mais difícil e inquietante: Choro, protesto, resistência; bater, empurrar, amuar, como impulso e primeira forma de ser e estar. A vida a ilustrar as suas diferenças e injustiças, porque com 3, 4 e 5 anos, há já quem tenha o coração ferido e cheio de sombras e que o expresse, como pode e sabe, junto dos outros. E nós, que da infância apenas retemos candura e encantamento, a ficarmos de boca aberta, a estranhar, a desiludirmos e a culpar meio mundo, com receio de não sermos capazes. E não cumprir o plano de trabalho, aquele tão interessante e tão desafiador.
Lembro-me do tempo, do espaço e da segurança que foi preciso dar a muitas das crianças que acolhi. Da mobilização do outro lado da pedagogia, o colo, e de outras estratégias procuradas em equipa. Das leituras feitas para tentar compreender a sua aflição e mágoa, o seu pedido de ajuda. Porque é isso que muitos comportamentos são, um grito de alerta para nos situarmos na "identidade e circunstância" de cada um, amparando as suas tentativas, às vezes "desastrosas", de se integrarem. Lembro-me das minhas dificuldades, de algum desespero, de achar que não chegaria a bom porto. Mas nunca se apagam as saudades, porque me lembro sempre do caminho feito, passo a passo, na (re)construção da relação, no progressivo apaziguamento, na aprendizagem bonita de cada menino e menina com histórias difíceis. E do afeto e maturidade de outros meninos e meninas do grupo e do seu envolvimento para incluir, compreender e apoiar quem expressava menos conforto. Lições de vida, que me ensinaram que o sucesso está em construir uma cultura de sala cuidadosa com todos os que nela vivem.
E tenho saudades. Sobretudo da oportunidade de aprender sem desistir de ninguém, cuidando de entender as crianças nas suas múltiplas vidas, contrariando estereótipos da infância como um tempo sempre doce, ingénuo e feliz. Há muitas crianças e muitas infâncias e como educadores temos o dever de as acolher a todas e a todas proporcionar o direito aos seus direitos.
Fácil? não, mas tenho saudades. Muitas.
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