Livros rimam com férias, tempo sem horas e corpo descansado. Os livros...com palavras alinhadas a revelarem vidas, ideias espalhadas em páginas brancas e lisas, bonitas, algumas com cheiro, por certo a desprenderem-se das pessoas que nelas habitam e nos contam histórias de si e dos outros e que ficam nossas também. Às vezes quase em espelho, às vezes quase a doer.
Os livros, essa companhia perfeita para silêncios desejados, metemos na mala, pegamos na mão, deixamos no sofá, saímos à pressa e voltamos para trás, para os levar connosco, porque se tornaram uma espécie de prolongamento de nós, do qual não abdicamos: capa, título, tema. Vivem connosco e sentimos-lhe a falta, todos os dias.
Gosto desta dependência, deste compromisso inteiro com as palavras, deste reino onde estou eu e o autor e a sua (re)construção da escrita e do pensamento, um ato de cultura e exposição, que me deixa, tantas vezes, em suspenso, pela audácia e inteligência das palavras escolhidas, que se tornam quase perfeitas - assim pensamos - para dizer o que tem que ser dito, naquela página, lugar, tempo e contexto. E abrimos a boca, estarrecidas, pela confirmação de tanto talento, sensibilidade e conhecimento. E agradecemos por sabermos ler, interpretar e prolongar as palavras na nossa vida. E agradecemos o acesso a este bem, que não sendo de primeira necessidade, assim devia ser considerado.
É claro que não falo de todos os livros, mas daqueles que elejo para companhia e diálogo, os meus livros, que procuro com saudade, autores que conheço e me mostraram a claridade dos dias, outros que descubro e me espantam, alguns que me são sugeridos e partilhados por amigos. Lendo-os, afeiçoo-me e integro-os em mim, cativa das suas propostas e benefícios, reforço a minha convicção e alegria na diversidade do mundo e dos seus autores.
Por agora e nestas férias, acompanho e comprometo-me com "O regresso a Reims" (Didier Eribon); "Eliete" (Dulce Maria Cardoso) e tenho guardado, para iniciar, "Sem fins lucrativos" (Martha Nussbaum).
Pelo meio (e no fim e no princípio e sempre...) leio de novo Sophia de Mello Breyner e descanso na sua poesia. Aqui fica, pelo mar e pela liberdade.
Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
(in No Mar Morto, 1958)
Pelo meio (e no fim e no princípio e sempre...) leio de novo Sophia de Mello Breyner e descanso na sua poesia. Aqui fica, pelo mar e pela liberdade.
Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
(in No Mar Morto, 1958)
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