sábado, 1 de dezembro de 2018

dezembro


Dezembro de novo na nossa vida. E nós, de novo, em dezembro. Sem apelos nem agravos, a retomar o fio das estrelas e a luz das velas junto ao presépio, assim ou de outra forma, porque o natal se faz de mil maneiras, tantas quantas a nossa história, as nossas gentes, os nossos lugares e sonhos, o permitem. 

Dezembro de novo na nossa vida. E a nossa vida a tomar forma nos dias, a compor os seus significados, às voltas com memórias distantes, o cheiro das filhós na bancada da cozinha, as meias e os rebuçados no sapatinho, o musgo, o espelho cintilante e as figuras de barro do presépio. A magia de retomar, com cadência, uma certa ordem das coisas para exprimir o amor e a intimidade do que fomos, com beijos e bibes de trazer por casa. 

Dezembro na nossa vida e nós, aqui. Sem escola por perto, mas com os meninos e meninas em presença, revisitar o que fizemos e tentámos, os seus olhos brilhantes pela magia das cores e o calor dos abraços perto das prendas, num lugar onde a vida é injusta e a pobreza o pão nosso de cada dia. Os seus risos e as guloseimas a aquecer uma infância quase sempre esquecida.

Dezembro na nossa vida e nós aqui. Montamos a árvore na sala e alindamos a casa, confiantes da sua importância para a continuidade de nós e dos sonhos. Convocamos os nossos para virem à ceia, mudamos os lugares, mantendo o amor, com pequenas lágrimas de saudade pelos ausentes. E acendemos uma vela em seu nome.  

Dezembro de novo na nossa vida e nós de frente para o futuro, indagando o seu mistério. Porque o queríamos transparente e atingível, moldável e submisso, longe de vagas perigosas, junto de marés de sorte. Um futuro promissor de boas novas, para nós e todos os outros. Um futuro certo e amigo de todos. Sem exclusão. 

Dezembro de novo na nossa vida.


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