Está a chegar. Vem, como todos os anos, expresso no que somos, porque somos nós que fazemos o natal. Vem ruidoso, às vezes, ou então de mansinho, com pantufas quentes, a comprovar que é em dezembro que acontece. Mas podia ser noutro dia qualquer, porque o natal é quando um homem quiser. Mas nem sempre queremos, movemos-nos pelas convenções, mais do que pelas urgências da vida justa.
Às vezes vem envergonhado, a pedir licença, em lugares onde teimam as coisas que não se tem e se devia ter. O pão na mesa, os abraços dos nossos, as roupas quentes, um colo e um regalo. Parece que quer ser natal, mas não é, pela força de destinos ganhos em lotarias do berço. E as crianças enxotam o frio e sonham com chocolates de leite, embrulhados em papel de prata. Pedem pouco e tantas vezes sabes-lhe a muito. Ainda.
Às vezes vem com saudades intensas, pequenos relâmpagos de imagens antigas, embrulhamos as prendas e sentimos a ausência, queríamos mais um embrulho e não vale a pena, o lugar da mesa já está vazio e não há encomendas a enviar para as estrelas no céu.
Às vezes vem confuso, queremos que seja e também não, consome-nos o tempo dos dilemas, medimos-lhe o sentido e a verdade, riso e lágrimas, festas e silêncio, atordoados que ficamos com a beleza da vida e a sua fealdade. Em proporções quase iguais, meio por meio.
E ficamos assim, às voltas com o natal, o nosso e o de todos. Em casa, apesar de tudo, damos forma à luz e ao amor, retocando com intenção, o encontro dos amigos e da família, sustento indispensável dos dias. E assim se cumpre o natal, hoje e sempre, igual e diferente, justo e injusto, grande e pequeno, quente e frio. Mas nunca indiferente...
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