Andamos pela cidade, com pés de bailarina e olhos de guardar imagens e alegramo-nos com a água fria dos canais, a força e beleza das flores à entrada das casas, o intimismo de lojas e cafés, zelosamente decorados, a elegância das mulheres e homens em bicicletas, com meninos pequenos, seguros e confiantes, a ver o mundo. As casas, de castanho e ocre, esteticamente cuidadas, enormes e consistentes, portadas abertas para a rua, em convívio ameno com jardins e árvores que deixam cair as folhas, num outono leve, de cores belas e quentes. As casas, os barcos, as bicicletas, sem agressões ambientais e torres de modernismo duvidoso. E no entanto, não cheira a tradição sem sentido, mas a cultura (bem) cuidada.
E pensamos que assim é que tem que ser. Um mundo criado pelos humanos, a fazer justiça às suas necessidades, de beleza, harmonia, cultura e dedicação. E direitos.
Um mundo para o presente, sem descuidar o passado e preparando, com convicção, o futuro. Um mundo com vida decente, trabalho útil e satisfatório, que responda a necessidades e desejos, um mundo com cultura(s), a(s) de todos, onde todos têm lugar e tempo para o criar e fruir. Um mundo menos resignado e submisso, mais criativo e desafiador, onde possamos pensar, sentir e ousar, sem obrigação cega de correr e lutar por um lugar ao sol. Um éden? Não, apenas um sítio justo e bom para se ser gente, com direitos e deveres não condicionados pelas raízes de uma história pessoal e social e pelas desigualdades relativas ao berço em que cada um nasceu.
Um mundo onde as crianças também possam ter a uma pedagogia "pouco presa" e sem medo. Grupos de crianças pela cidade, com adultos sorridentes, que param e compõem laços na cabeça, riem alto com as falas dos mais novos, genuinamente envolvidos, "comboios" de dois a dois, com alguns com três e outros só um, pouco alinhados, mas muito tranquilos, adultos seguros e calmos, sem vozes altas e cara de poucos amigos. Uma alegria para os nossos olhos, ter visto esta forma de fazer passeios pela cidade a lembrar que precisamos de a conhecer com gosto, liberdade e alegria, para a integrar como lugar que prolonga a escola, uma comunidade que educa pelas suas instituições, espaços, culturas, lugares, cheiros, cores, movimento e luz. Uma educação situada in loco, com conhecimento, amor e presença.
E assim, os meninos e meninas nas escolas, desde muito cedo, aprenderão a amar a cultura humana, a (re)criá-la e a protegê-la. A dotá-la de mais sentido para si e para os outros, adotando medidas e atitudes de cuidado e atenção. Porque não nascemos prontos para cuidar de nós e do mundo, essa tem que ser uma condição ensinada e apreendida desde que se nasce, entre os homens e as mulheres que amam os outros homens e mulheres, o seu tempo e as cidades.
E as sabem reconstruir, como amigas de todos e sobretudo, belas. Como esta.
E as sabem reconstruir, como amigas de todos e sobretudo, belas. Como esta.
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