Manha fresca e com sol dourado. O tempo ameno convida a um passeio, por entre árvores altas e folhas secas, em jeito de cama no chão, a confirmar que é outono. Invade-nos uma lentidão mansa e contemplativa.
Parece ser tempo de abandonar o verão, deixar de lado o esplendor dos dias, encerrar as tardes longas na areia, arrumar os vestidos leves na gaveta. Depois, baixar um pouco as persianas, dar um jeito no canto do sofá, procurar a manta de tapar os pés, agarrar o casaco de trazer por casa e prepararmo-nos para acolher o outono, que teima em não se fazer notar, ofuscado que anda pelos dias ainda quentes.
E vai ser bom e disso precisamos, porque o descanso já se foi há muito tempo e já há muito tempo retomámos o trabalho. As salas de aula já estão cheias de meninos e meninas, que ávidos, querem brincar e aprender, por entre conversas boas, lágrimas teimosas e ruído intenso.
E os professores já regressaram ao seu posto, lado a lado com pequenos e grandes, a construir todos os dias, com detalhe e intencionalidade, uma escola hospitaleira e cuidada, onde saiba bem-estar, pertencer e participar. E retomam de novo aos lugares comuns, que sendo velhos, viram novos, dar colo e abraçar, mimar e acolher, propor e interagir, observar e planear, refletir e avançar. Serena e convictamente, sem desistir de ninguém, com fé em todos. Porque é para todos que a pedagogia se faz, diferenciada, justa e criativa. Com ética e estética.
Por nós, sem estar com meninos e meninas, sentimos a sua falta, neste outono. Sobretudo das conversas longas, entre perguntas, espantos e alegria. Da azáfama em parceria, com pinturas, desenhos, negociações, histórias, canções e corridas no recreio. Ouvimos, quase todos os dias, lá longe, fora e dentro de nós, manifestações e ecos da(s) infância(s).
Por aqui, resta-nos, neste ano letivo, as aulas com crescidos, que querem, no futuro, ser educadores. E para que tudo faça sentido, aplicamo-nos também em conversas longas, por entre textos, relatos de experiências, discussões, confrontos, desafios. Mas não é a mesma coisa e é difícil.
Ser grande implica ter alguns anos de história(s) e vida(s), construídas por aprendizagens e descobertas, de braço dado com estereótipos, preconceitos e uma certa forma de ver o mundo e a escola. Pormo-nos em questão, rompendo com ideias e verdades tidas como certas e adquiridas, não é tarefa fácil, ainda que seja imprescindível.
Precisamos assim do outono. Com mil cores, tonalidades e promessas. Com beleza e muita lentidão, para repor a serenidade, refletir e arrumar ideias, deitar fora os desperdícios, consagrar a energia inovadora a bons recomeços.
Já é tarde? não, estamos ainda muito a tempo, outubro vai a meio, o outono apresenta-se agora com mais força e circunstância. Assim o comprovámos hoje no parque, esta manha. Entre folhas e tempo fresco.
Aguardo o passar do doce outono, para em manhãs de inverno poder enrolar e enroscar a nossa amizade.
ResponderEliminarSaudades, abraço