Percorro algumas lembranças do teu nome e fico alerta com a força da memória. Inauguro o dia a declinar pecados, espantada com a rasteira do tempo, que sendo longo, se afigura curto. Parece que foi ontem que as vagas do mar se desfizeram em espuma e que as rochas, lisas e molhadas, pediam afagos de mãos. Confirmo, para não me desacreditar, que já passaram muitas luas e poentes e que o futuro habilmente projetado é hoje apenas este presente. Ainda assim debato-me contra a inevitabilidade e o destino, rompendo o círculo das rotinas consentidas.
Apareces de corpo inteiro e voz absoluta, lançando mão da tua alegria e sedução. Induzes pequenas graças e fios de seda, tecidos com a paciência dos sagazes. Estás em qualquer sítio, porque és para além de tudo, o fim e o principio. Dos poemas, dos dias de luz, da liberdade sem dono, do musgo e da eira, do verão e do inverno. Podemos ver-te em todas as estações, resgatando causas e afetos, com mãos de embalo e uma pequena voz trémula. Não é visível a olho nu, a tua força e a tua vantagem.
Por isso, viver sem ti é viver pobre e combalido. É viver pela metade e por empréstimo, porque tu tens todas as formas de ser e ainda muitas outras. Foges quando te chamam, permaneces de pedra e cal quando te expulsam, vives em morte, morres em vida. Queremos explicar o teu mistério e não há forma, nem palavras, nem circunstâncias, que o saúdem e justifiquem. Apenas que és e existes. Sem mais razões e premissas.
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