domingo, 17 de dezembro de 2017

Natal. Outra vez.

Vai ser natal. Outra vez.

Nas escolas, a semana foi de festa, correrias e agitação. Esperemos que de bem com a pedagogia, porque o stress imposto e adultizado, não casa com o menino ao colo da sua mãe e o ar sossegado do burro na manjedoura. Nem com as prendas do pai natal, esse velhinho amigo, que dizemos lembrar-se de todos, mas sabemos não ser verdade, porque o mundo é infinito e infinitas são também as condições dos meninos e meninas, algumas escandalosamente injustas, que não há como fazer milagres lá do céu. A fazer, seria aqui da terra, com a exigência de uma vida certa e justa a que todos têm direito. Mas andamos tão ocupados e concentrados em nós, quase sempre distraídos e resignados, face à estranha ordem das coisas. E queremos? Sim, pois, queremos...então, temos que fazer acontecer, porque a única coisa que cai do céu é a chuva...

http://www.obrasdarte.com/wp-content/uploads/2015/01/Waldomiro_de_Deus_Casal_Feliz.jpgVai ser natal. Outra vez. E rendemo-nos de novo à ceia e ao amor dos nossos junto à mesa, a agradecer estarmos vivos, com saúde e em família. Que diminui e aumenta, porque a vida é um rio que não pára, misturam-se as partidas e as chegadas, provando que estamos todos no cais, a acolher e a largar quem nos fez e quem fizemos, neste lugar que é a terra. Do cuidado com que nos criaram, do cuidado que soubemos e pudemos dar a quem, do nosso coração e da nossa barriga, lançámos para o mundo.

Vai ser natal. Outra vez. E aceitamos os risos e as boas festas, lembramos os amigos e agradecemos a sua presença na nossa vida. Pelas rabanadas e pelas azevias, mas sobretudo pelo tempo que nos concedem, que roubam ao seu destino, para connosco construírem dias novos e ousados. Que são uma luz e um desafio para o nosso viver e a nossa procura de sermos pessoas.

Vai ser natal. Outra vez. E apesar de podermos estar mais sós e menos contentes, vamos acertar o dia e a noite com a nossa sorte, banindo o desconforto do que não pode ser. Da pobreza que existe, dos atropelos à dignidade, das vidas maltratadas, dos amores que já partiram, dos sonhos não cumpridos. E se rezarmos, saibamos que podemos e devemos, para além disso, renovar os nossos compromissos de cuidado ético e convictamente atento para com o mundo, na vida dos que nos cercam.

Porque vai ser natal. Outra vez.  

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