Já não escrevo há muito tempo. Falta-me o mote e os motivos, as falas, risos, perguntas e opiniões, feitos e fitas. Faltam-me. E como me faltam, no decorrer dos dias.
Por isso, de alguma forma, perdi a inspiração. Movo-me menos inquietada e menos perguntadora, mais colada ao previsível, olhando o tempo e as tarefas como coisas a fazer, ainda o melhor que sei, é certo, mas sem a interpelação dos sentidos e dos saberes dos meninos pequenos, absolutamente grandes em interação e vida(s) partilhada(s).
Faz-me falta a construção colorida dos dias, esse permanente vai e vem entre descoberta, alegria, crescimento, encontro, ousadia. Essa espécie de luz primeira, brilho nos olhos, mãos descansadas nos nossos ombros, perguntas a confirmar os fazeres e a dedicação.
Faz-me falta a revelação da pedagogia, feita de coisas singulares e muito concretas, pegamos nos pincéis e desatamos a pintar, um sol e uma flor, riscos e rabiscos e damos-lhe um nome e uma intenção, e nós a sorrir pela liberdade e pela construção da luz, do lado de dentro de cada um, no contexto da sala e dos afetos.
Fazem-me falta as conversas "ao redor da mesa grande", nem sempre simples e afáveis, mas sempre poderosas para a reconstrução da vida coletiva. Uma procura inacabada para o entendimento, para a conquista de cada um ser o melhor que pode, numa comunidade de aprendizagem.
Faz-me falta até o cansaço, o desassossego dos dias, as negociações e zangas, os problemas e as dificuldades para se ser de corpo e coração inteiros. Faz-me falta cuidar, apoiar e receber, um pouco de tudo o que os meninos e as meninas guardam e procuram dentro e fora de si.
Faz-me falta ser sua companheira de aventuras e desavenças. Faz-me falta.
Passo o tempo a dizer que deveria estar a entrar na reforma. Mas se entrasse tenho a certeza que me faria falta!
ResponderEliminarO que te faz falta... transborda de ti Manuela. Está em ti e não desvanece. Nunca. Gosto- te
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