Quando pertencemos ao lugar onde estamos? Quando olhamos e o que vemos, é também aquilo que sentimos e temos dificuldade em separar a pele da árvore, o colo do chão, os olhos do jardim? Quando é que por dentro já somos parte do que vemos por fora e tudo se conjuga numa amálgama de cores, risos, caminhos e projetos?
Quando é pertencemos ao lugar onde estamos? Quando é que o tornamos nosso e nele inscrevemos as nossas impressões digitais, aquelas que permitem tornar conhecido, amigável e desejável o que antes era apenas uma forma de arquitetura, mais ou menos bela, mais ou menos neutra?
Quando é que as pessoas se tornam parte de nós, os risos são saudações de acolhimento, as falas uma espécie de cartão de identidade? Quando começámos a amar e a fazer parte?
Quando é que deixamos de ser estrangeiros nos lugares que habitamos e nos tornamos gente no meio de gente, sabendo ler as sinas e as mágoas, os ditos e os silêncios, a alegria e a tristeza? Quando é que sabemos que tudo está certo, porque assim é que é, para além das dificuldades e deceções?
Quando é que a vida se põe de feição, mostrando que ali é o nosso lugar e que podemos escrever quase todas as histórias que os sonhos necessitam? Quando é que começamos a sentir que a vida se faz por aquele sitio e aquele sitio é o lugar mais certo para fazer a nossa vida e a de outros?
Quando é que estamos no meio da nossa gente? Quando pertencemos ao lugar onde estamos?
Carreguei ontem dentro de mim todas estas perguntas, quando me apresentei na ESE, lugar para onde vou dar aulas, durante este ano letivo. Carreguei-as de novo, hoje com mais intensidade e desconforto quando fui à minha sala e encontrei pela rua, a minha gente.
Assim me sinto, a despedir-me de um lugar onde fiz cama, colo e projeto, onde as histórias se desenharam com cores e traços de amor, para enfrentar a construção de um novo lugar.
Mas tenho saudades do que foi e do que poderia voltar a ser, lá no meu lugar. E lembro-me do poema de Cecília Meireles...pois é!
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
(...)
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
O melhor és tu Manuela que há gente que faz seu qualquer lugar do mundo!
ResponderEliminarobrigada...assim quero que seja, assim me quero sentir...abraços e saudades!
EliminarAdorei, sorte de quem se vai cruzar consigo na nossa saudosa ESE. Beijinho.
ResponderEliminarVais mais uma vez dar o teu melhor na ESE, tal como deste estes últimos anos na Trafaria, APEI...bem como em todos os outros locais...BOM ANO LETIVO e muitas felicidades pessoais e profissionais. Ai e não te esqueças do que combinámos: trabalhar mas também passear, viajar, bons espetáculos, jantarinhos...temos de ter tempo para nós...Bjs
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