Estavam todos sentados à espera que a festa começasse, e eu aproximei-me, contente de os ver, com as fitas na cabeça, direitinhos e curiosos, entre a música de natal, o barulho das vozes e a azáfama dos adultos. Alguns abraços vieram rápidos, outros ficaram recolhidos, que a compreensão da minha ausência ainda não era nem clara nem certa.
Aproximei-me dela, e fiquei sentada ao seu lado, perguntando se estava tudo bem. Respondeu que sim e remeteu-se ao silêncio, num comportamento pouco habitual. Depois começou a brincar com a amiga do lado rindo.
- A tua mãe vem amanha ao lanche?, perguntei-lhe
- Vem!? disse ela, pensando que eu estava a fazer uma afirmação.
- Não estou a dizer que vem, estou a perguntar se tu sabes se a tua mãe vem. Eu venho.
Olhou para mim muito séria e disse repentinamente
- Com bata?
Sorri, dei-lhe um abraço e disse:
- Não, sem bata, eu agora já não vou vestir bata, na sala, porque já não vou trabalhar mais com os meninos e as meninas. Já tínhamos conversado sobre isso, lembras-te? Mas venho visitar-vos, de vez em quando vez em quanto.
E fiquei a pensar na pergunta e na bata, surpreendida pela forma como foi dita, com rapidez, como se já fosse pensada há algum tempo. Pensei na bata e no seu valor e função, para nós e para as crianças. Nas histórias que as batas contam e fazem no quotidiano da sala, naquilo que podem transmitir, propor, construir. Uma bata? sim, uma bata, não pelo seu corte, estética, cor, mas porque assumem o cobrem o corpo de uma pessoa que se torna referência, que ao vesti-la, pela manhã, está pronta para ir brincar, planear, ouvir, desafiar, dar colo...também zangar-se, às vezes...mas sobretudo, fazer acontecer o dia com as crianças e a equipa. A bata como requisito de permanecer, de ficar, de continuar.Se se pode ser educadora sem bata? julgo que sim. No caso que agora conto, não. Porque vestir a bata, pela manhã era uma rotina boa para mim, uma alegria e um conforto. Um ritual, a anteceder a chegada das crianças e o início do dia. Um início bom, a promessa de estarmos juntos e sermos um grupo e uma comunidade a aprender.
Pelos vistos e ainda que não exatamente nestes termos, para a F. também. "Tu vens, mas é com bata?
foto j.i Trafaria
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