Fui vê-los. Na hora do intervalo quando o corpo pede corridas e brincadeiras malucas, com alegria e liberdade.
Vieram a correr, a chamar o meu nome, entre risos, abraços e empurrões. Ia caindo ao portão, com a força dos meninos e meninas que foram para o 1º ano. Muitas conversas e informações, tudo ao molho e fé em Deus, que o tempo é curto e as saudades apertam... olha, já comecei a aprender coisas... olha o ...portou-se mal...olha vais cá ficar? não, não vou, vim visitar-vos e para ali ficámos, seguras do amor e das histórias que vivemos juntos, nos anos que passaram. As festas e conversas espalharam-se e eu a olhar em redor. O A. quieto a um canto, com as primas, sem se mexer. Fui ter com ele e dei-lhe um beijo e disse-lhe ao ouvido que o meu coração se lembrava dele quase todos os dias. Riu, em silêncio e encostou a cabeça ao meu peito. Um calor e um reconhecimento.

Depois vim-me embora. A pensar nas escolas, nas comunidades e nas culturas. Naquilo que se vê e se intui. Naquilo que existe e no que falta. Na imensa alegria dos meninos e na imensa necessidade que têm de ser ouvidos e amados. E em nós, educadores como âncoras de uma aprendizagem que se quer justa, emancipatória, reconstrutora de identidades e circunstâncias. Para que todos tenham vez e voz e o direito a uma cidadania plena, que começa aqui, pelo direito ao sucesso como pessoa e como aluno. Às vezes separamos uma coisa da outra e isso não é separável. Porque quem aprende é a pessoa que existe em cada menino e menina, com a sua história, o seu presente e as ideias que vai construindo de si para o futuro. E é para isto que servem as escolas e os educadores, para cuidar, ensinar e libertar gente de corpo inteiro, no agora e para os dias que hão-de vir.
Com as saudades reconfortadas, foi isto (e mais outras coisas) que vim a pensar para casa.