Deixei tudo na areia e fui andar à beira-mar. Pano a proteger os ombros, chapéu na cabeça, pés frescos na água. Não levei companhia, a conversa era íntíma, não requeria mais que dois nesta espécie de monólogo com mar ao fundo.
Caminhei durante mais de uma hora, tempo suficiente para quase dar a volta à vida. E dei. Falei-lhe dos meninos e meninas da escola, que agora estão de férias, lá no bairro, a brincar nas ruas, uns com os outros, risos altos e corpo ágil, cheio de vida. Jurei que quase lhes ouvia as falas e os acertos das brincadeiras, entre partilhas e disputas.
Falei-lhe dos meus rapazes, grandes e lindos, que já fazem férias com outros, amigos e novas famílias, que deixaram de ser pequenos, a cheirar a bebé e viraram homens de barba e corpo grande. Sussurrei-lhe algumas das minhas saudades, segredos calados de mãe, imagens presentes da casa com roupa espalhada e programas agitados de noites de verão. E cheiro a creme depois da praia.

Depois calei-me, queria ouvi-lo e saber do seu inverno e primavera, das suas dores e maleitas. E ele disse que tudo estava quase igual, as conchas de muitas cores, o brilho forte da areia, o barulho leve das ondas, os peixes pequenos, a frescura e a leveza da sua cor de azul e mar. Tudo igual, tudo renovado.
Assim confirmei. E assim ficaram as saudades postas em dia, condição essencial para começar as férias. Aqui estamos.
Lindo.
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ResponderEliminarMuito bonito! Que os desejos se confirmem e que as saudades voltem todas os anos e possam ser sanadas também todos os anos.
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