quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Saudade

1 de janeiro de 2015
O dia já amanheceu e já fui ver a rua. Um frio que gela, um céu azul lindo, um sol forte, aberto, que aquece a paisagem. Tudo em silêncio, porque a madrugada foi longa e o sono ainda está demorado no corpo de quem dorme.
Lembro-me de ti e de como me fazes falta. Por tantas coisas, a menor das quais seria agora  preparar o perú para o almoço. As outras, não se dizem, faltam as palavras para retratar o alcance do amor de mãe. Um continente de afetos e regaços, uma lonjura grande como o mar, uma condição de futuro sem quebra e sem resgaste.

Fazes-me falta, hoje, 1º dia de 2015 e assim tem sido desde que partiste. Começar o ano sem o dizer, não é possivel nem seria seria justo para o meu coração e a minha saudade.

http://www.jokerartgallery.com/pintura/edmilsoncosta/m%E3e%20e%20filho%20dormem-osm-79x100cm2006.jpg 
Aqui fica pelas palavras de Almada Negreiros

Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
Traze tinta encarnada para escrever estas coisas!
Tinta cor de sangue, sangue verdadeiro, encarnado!

Mãe, passa a tua mão pela minha cabeça!

Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra de viagens!
Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando viajar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me ao teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei,
Tão parecias com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!
Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa.
Eu também quero ter um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe, passa a tua mão pela minha cabeça!

Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!

José de Almada Negreiros, a invenção do dia claro

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