Deixamos de escrever e as palavras começam a fugir dentro de nós. Deixamos de escrever por muitas razões, saúde fragilizada, dias frios e mãos geladas, perplexidades assombradas que nos deixam de boca aberta e sorriso triste. Esforçamo-nos por continuar a acreditar na beleza e na liberdade de ser pessoa em relação com outros, mas o mundo obriga-nos a fazer silêncios contidos, para não gritar de espanto. Temos pudor de escancarar a porta e dizer que o rei vai nu. Mas vai.

Abrem a boca e desenrolam histórias, pegam em palavras e carregam-nas com sentidos, a propósito e a despropósito, que é outra forma de ter propósito e conseguir obter respostas. Estão cheios de dúvidas, porque os encheram do que não necessitam. Carregados de vida de adultos, feridos na sua intimidade de meninos e meninas a crescer, buscam em nós confirmações e descanso. Porque estão cansados do que sabem e não lhes faz falta. Por isso, intranquilizam-se vezes sem conta durante o dia, batem, pulam, demoram tempo a concentrar-se, não há calma para lidar com essa parte da vida, desvendada, sem cuidado. Não sabem o que fazer do que viram e ouviram. Estão suspensos de si, em modo de respiração alterada. Ás vezes para aguentar, riem-se nervosos, por tudo e por nada.
Continuam meninos e meninas, ainda que sonhem talvez um pouco menos, parece. Há pouco espaço para sonhar quando a cabeça está cheia de coisas difíceis. Tentamos não ceder a leituras breves e evitar zangas com o mundo que não cuida da infância. Já assim também viveram. Tentamos apoiar tudo o que há de positivo, responder ao que nos dizem, lutando para não ficar sem fala. Tentamos controlar falsos moralismos. Mas a vida é muito dura e estes meninos muito pequenos. São guerreiros do seu tempo e dos seus modos.
Podemos começar tudo de novo? vamos lá nascer e aprender a ser meninos e meninas em mundos mais suaves. E quentes. E feitos para a infância. Vá.
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