sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O mar

Gostava de ser capaz de escrever sobre a beleza do mar. Este mar que visito todos os anos e esta água que me refresca o corpo e o pensamento, dos cansaços fartos e escondidos de outras estações do ano, em tempo de trabalho. 

Gostava de descobrir as palavras mais belas que traduzissem com exuberância, ainda que ponderada, a transparência da água, a sua quietude, lonjura, tonalidades e cadência, movimentos e som. E aflorassem o voo das gaivotas, com a mesma serenidade que as atinge quando descansam com leveza na sua superfície.

http://downloads.open4group.com/images/media_gaivota-praia-mar-5c5a6.jpgGostava de ser capaz de falar deste gosto e deste deslumbramento que apazigua mágoas e lamentos, e me devolve o sentido do silêncio, esse que embala o sono dos meninos em noites de luar e redime as lutas de guerreiros em tempos de paz. 

Gostava de criar outros dialetos e outras grafias, em forma de concha, buzio, alga, cavalo marinho, estrela-do-mar, duna e areia escaldante. E uma música, suave e melodiosa, para traduzir o som do mar e o seu bater leve e constante, na areia molhada e nas pedras que rolam, dóceis, entre a espuma.

Gostava de saber escrever textos poéticos sobre a beleza que o mar me dá, de tanto o olhar. De lhe retribuir o encanto, esculpindo palavras em imagens límpidas, frescas, em tons de azul e verde-mar. Com gaivotas e bocados de algas. E fios de água a correr. E marcas de pés na areia. E crianças com a pele morena e riso alegre. E mulheres a partilharem amores felizes. E jovens a beijarem-se, com os corpos molhados. E os sons da água contra as rochas. E o canto das gaivotas. E a lonjura do horizonte. E a cor dourada da areia, em tardes longas de calor bom. 

Gostava de ser capaz de escrever sobre a beleza do mar. 
 

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