domingo, 13 de outubro de 2013

Gente...e gente

Há pessoas que são felizes em mundos pequenos, com os objetos e projetos todos ordenados, não necessitando de qualquer brisa do mar que agite a cortina da janela e descomponha a colcha da cama, fielmente feita todos os dias à mesma hora. Também não apreciam uma surpreendente lua cheia que ilumine a escuridão de um caminho perdido na serra. São pessoas cautelosas, chega-lhes a harmonia que estabelecem com os ponteiros do relógio e as contas atempadas para a chegada de cada estação. Armários arrumados, roupas quentes para o que der e vier, pantufas colocadas à espera do inverno. Tudo pronto e tudo controlado, que as surpresas assustam o coração e tornam desconfortável a ideia de futuro.Sentem-se sem rei nem roque, não se atrevem a respirar, sentido incómodo e uma dor na alma pelo que não conseguem antecipar. Têm amigos certos, que os ajudam a apanhar as uvas quando ficam maduras, mas nunca ousam dizer ou pensar que até ao lavar dos cestos é vindima. 

Há outras pessoas para quem o mundo é sonhado na imensidão de um tempo por descobrir. Apaixonadas pelos reflexos do nascer do sol nas madrugadas frias, saem de casa vezes sem conta ao cair da noite e procuram curiosas as palavras certas para iniciar os dias. Compõem-nas em companhia, com amigos, aqueles que andam de igual maneira à procura da vida, porque a que têm está velha, gasta e com pouco sentido. Também lhes dói a alma, mas pela razão inversa dos que não desejam ser surpreendidos.

Não se atrevem a respirar quando tudo está irremediavelmente no sitio certo e quando não alcançam os caminhos bons para sonhar os sonhos de olhos abertos.
Gostam de bússolas que lhes indiquem o norte, mas chamam a si a descoberta de outros roteiros para entenderem a imensidão de estarem vivos. Cantam, dançam e falam até tarde, porque as palavras são uma arma para revelar o que de si e dos outros anda escondido. Conhecem da vida o seu sabor agridoce e dizem vezes sem conta não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe...

Conheço gente de um lado e de outro. Entendo melhor os segundos, porque aí me situo, inconformada com mapas que outros fizerem e nos oferecem para poupar medos e mãos feridas de apalpar pedras e urtigas do campo. Rendo-me depressa a estas dores, elas mostram-me a realidade, que procuro enquanto tenho tempo de a tingir com cores de coragem, investimento e encanto. Quando os encontro, em mim e nos outros. 

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