sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Persistir

Há dias em que nos sentimos transparentes. Transparentes e estrangeiros na nossa terra. Ninguém nos vê, ninguém nos reconhece, não entendem o que dizemos, exprimimos ideias e pontos de vista e... nada. Silêncio absoluto à nossa volta. Procuramos os olhares dos outros, queremos manter-nos ligados, acreditamos no valor do encontro, de sermos mais do que um à volta de uma ideia e de um projeto, mas isso não colhe adeptos nem seguidores. Ficamos sós frente às nossas convicções, sozinhos a pregar no deserto, atores únicos de uma peça sem casa cheia. E espanta-nos a ausência de outros, estranhamos que assim seja, mas é. E no entanto, se bem pensássemos, não ficaríamos assim admirados nem desconfortáveis na nossa pele, no nosso querer e no nosso pensar. Porque sabemos já,  de outras paragens e vidas vividas, que há sempre um preço a pagar pela liberdade de pensamento e pela ousadia de dizermos, com todas as palavras, o que pensamos, sentimos e acreditamos.

Exercício difícil, este, que nos confirma a identidade, traduz a autonomia, garante a autenticidade, mas impossibilita o reconhecimento e a convivência. Não tem solução fácil à vista desarmada. A não ser ficarmos transparentes, mais ou menos sossegados, sem grandes manifestações ou opiniões evidentes. Sejamos então, por escassos dias, contidos e de poucas palavras, para apaziguar a estranheza que se apodera de nós e de quem à nossa volta, se incomoda.

No entretanto, podemos sempre pensar na frase do poema da Sophia vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar , respirar fundo até à próxima vez, em que voltamos a ser quem somos. Sem pedir licença. 

3 comentários:

  1. Respostas
    1. Ai! Manela! Sinto-me assim desde que saí do ICE (espaço de liberdade)em 2007 e voltei para o "sistema"! Como é dificil resistir para não ser engolida por ele e pelas pessoas que fazem a engrenagem funcionar... Ás vezes, bem tento colocar um pouco de areia na engragem mas quem fica celindrada sou eu... Ás vezes, faltam-me as forças e o sentido... Para onde me estão a forçar a caminhar? Será que ainda consigo ser gente neste mar de gente que não sabe ser gente quando tem gente pela frente?

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    2. Percebo o que dizes...há lugares e espaços e pessoas que são promissores e que nos libertam. Há outros que, face ao que somos, não se ajustam. E pior, incomodam-nos e incomodam-se connosco. O que fazer? tentar persistir, sem grandes dores. Se conseguirmos. E havemos de conseguir. talvez tenhamos que eleger o que é fundamental na nossa vida. Apenas fundamental e importante. Separemos o trigo do joio, com serenidade.
      Abraço

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